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Fotos: ThisisEngineering RAEng | Unsplash e Jany Hellen Ferreira de Jesus | Unesp

O lodo gerado por Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), que normalmente é descartado em aterros sanitários, poderá ganhar uma nova e nobre função: auxiliar na limpeza de efluentes, resíduos gerados pelas atividades humanas que são tratados antes de serem lançados nos rios.

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A descoberta é de um estudo realizado por pesquisadoras do Instituto de Química (IQ) da Unesp, em Araraquara. Elas reaproveitaram o lodo para produzir um novo material com propriedades magnéticas que se mostrou capaz, em conjunto com peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e luz solar, de degradar no laboratório resquícios de antibióticos presentes no efluente da cidade, além de desinfectá-lo removendo coliformes, bactérias e outros compostos orgânicos.

A técnica para o tratamento de efluentes proposta no IQ, que por enquanto foi testada em pequena escala, foi desenvolvida com a colaboração do Departamento Autônomo de Água e Esgotos de Araraquara (DAAE), que cedeu amostras de lodo e efluente para o estudo. A expectativa das cientistas é de que, futuramente, o novo sistema possa ser implementado na ETE do município.

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Foto: iStock

Intitulado “Recycling WWTP Sludge as an Efficient and Reusable Magnetic Catalyst for Heterogeneous Photo-Fenton Degradation of Antibiotics”, o trabalho foi premiado durante o “11th European Conference on Solar Chemistry and Photocatalysis: Environmental Applications”, congresso internacional realizado em Turim, na Itália, no mês de junho.

Como funciona?

O método da Unesp é realizado da seguinte forma: após ser coletado, o lodo passa por alguns procedimentos de secagem e tratamento térmico até virar um pó alaranjado, que é colocado em um recipiente com o efluente. Depois disso, uma pequena quantidade de água oxigenada é adicionada à mistura, que fica em agitação enquanto é mantida sob irradiação solar. Após três horas, o pó magnético é removido e o efluente é analisado.

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Em testes realizados no laboratório com amostras de efluente e dos antibióticos Sulfametoxazol e Trimetoprim, foi possível degradar 100% dos medicamentos, além de remover completamente os coliformes e bactérias presentes, entre elas, a Escherichia coli, que pode causar uma série de infecções.

Segundo a pós-doutoranda do IQ e autora do trabalho, Jany Hellen Ferreira de Jesus, as estações de tratamento de esgoto não conseguem remover completamente os restos de antibióticos dos efluentes que são tratados. Com isso, ao serem lançadas nos ambientes aquáticos após passarem pelas ETEs, essas pequenas concentrações de medicamentos podem facilitar o surgimento de superbactérias que se adaptam ao contato frequente com esses remédios, podendo desencadear um problema de saúde pública. Por isso a importância de se criar uma solução para evitar esses impactos. A ideia, segundo a cientista, é de que o novo método seja implementado como uma etapa extra no tratamento de efluentes realizado atualmente.

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Pó magnético resultante do lodo coletado pelas cientistas. | Foto: Jany Hellen Ferreira de Jesus

“Desenvolvemos uma estratégia ambientalmente amigável que recicla o lodo gerado na própria estação de tratamento, um resíduo rico em ferro, para produzir um material magnético que pode ser usado na degradação de antibióticos e de outros componentes orgânicos do efluente. Além de agregar valor a um resíduo, o trabalho permitiu utilizá-lo para melhorar os parâmetros de qualidade do efluente da própria ETE, abrindo caminho para que ele seja lançado em corpos d’água já desinfectado, o que não acontece hoje em dia”, explica Jany, que durante a pesquisa teve supervisão da professora Raquel Fernandes Pupo Nogueira do IQ e colaboração da doutoranda Karla Virginia Leite Lima.

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Trabalho de Jany foi premiado em Congresso realizado na Itália.

Agora, as especialistas esperam ampliar a escala dos testes com quantidades maiores de efluente e medicamentos para validar o método e acelerar sua implementação. Um artigo científico que descreve o novo tratamento está sendo finalizado para ser submetido à publicação. A pesquisa conta com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Por Henrique Fontes | IQ – Unesp