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Expansão do cultivo de soja ameaça biodiversidade do Pantanal

SOS Pantanal lança petição online para sensibilizar sociedade civil e Poder Público sobre riscos ao bioma no Mato Grosso do Sul

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A expansão do cultivo de soja é uma ameaça à biodiversidade do Pantanal no Mato Grosso do Sul. Foto: SOS Pantanal

O Pantanal, maior planície inundável do planeta em extensão contínua, enfrenta mais uma ameaça. Depois de ter sido drasticamente afetado pelos incêndios em 2020 e 2021, o bioma pode sofrer danos ambientais irreversíveis, em sua porção no Mato Grosso do Sul, caso áreas naturais da planície sejam convertidas em plantio de soja de larga escala.

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Quem faz o alerta por meio de uma campanha de sensibilização junto à sociedade civil e ao Poder Público é o Instituto SOS Pantanal, que lançou uma petição on-line para recolher assinaturas de apoio à causa.

De acordo com o instituto, atualmente existem menos de 3 mil hectares plantados de soja dentro da planície pantaneira no Mato Grosso do Sul, localizados nos municípios de Coxim, Miranda e Aquidauana.

Pode parecer um número pequeno, mas há um risco efetivo de crescimento destas áreas nos próximos anos, podendo afetar seriamente o equilíbrio do meio ambiente. Os investimentos em infraestrutura como estradas e aterros dentro da planície vão facilitar a produção e seu escoamento em um futuro próximo.

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Área desmatada no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Foto: SOS Pantanal

Embora ainda não se possa avaliar os impactos gerados por esses 3 mil hectares de soja cultivados, o diretor de Comunicação e Engajamento do SOS Pantanal, o biólogo Gustavo de Carvalho Figueiroa, afirma que é consenso, entre representantes rurais e de outras instituições que atuam na defesa do ecossistema, de que o plantio em larga escala do grão é um risco, pois interfere diretamente no meio ambiente e o Pantanal, segundo ele, não tem vocação para esse cultivo.

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“O bioma tem a vocação para a pecuária, que está estabelecida na região há mais de 200 anos. Bem manejada, a produção pecuarista mantém uma relação de equilíbrio com o Pantanal. Já a soja, não, pois requer o desmate de grandes áreas e o uso de defensivos agrícolas para viabilizar a produção em larga escala”, avalia Gustavo.

Ainda de acordo com Figueiroa, há um exemplo na região da cidade vizinha ao Pantanal, Bonito (MS). Hoje, a região toda tem seus principais rios ameaçados pelo avanço do cultivo de soja em regiões de banhado, mais vulneráveis a qualquer alteração.

“A morosidade do Estado em pautar ou direcionar o avanço dessas lavouras propiciou que ele fosse desordenado em locais ambientalmente sensíveis a um custo enorme para a região”, contextualiza.

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Colheita de soja em Mato Grosso, Brasil
Colheita de soja em Mato Grosso, Brasil | Foto: iStock

Legislação ambiental

O Mato Grosso do Sul possui 35,7 milhões de hectares em sua totalidade. Em 2021/2022, 3,7 milhões de hectares foram utilizados para o plantio de soja (11% do Estado).

Porém, existem atualmente 8 milhões de hectares de áreas degradadas que poderiam ser convertidas em plantio sem necessidade de avançar no Pantanal.

“Diante desse cenário, a hora de pautar e direcionar esforços nessa legislação é agora, quando ainda há poucos hectares de soja na planície e não há tempo a perder”, enfatiza o presidente do SOS Pantanal, Alexandre Bossi, sobre a urgência de sensibilizar a todos – sociedade civil, opinião pública, ambientalistas e a classe política do Mato Grosso do Sul – sobre os riscos que o amplo cultivo de soja pode acarretar.

Ainda de acordo com Bossi, o Estado vizinho, Mato Grosso, já possui uma legislação que impede o cultivo de soja na planície. “O Mato Grosso do Sul deveria seguir o mesmo caminho. Viemos alertar sobre o futuro da planície e trazer à tona futuros problemas e, com eles, possíveis soluções, inclusive econômicas”, diz.

Contaminação de áreas alagáveis

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Áreas alagadas no Pantanal. Foto: SOS Pantanal

Segundo Figueiroa, no Pantanal, por ser uma grande extensão alagável, o risco de malefícios gerados por uma produção agrícola em larga escala é potencializado por conta da utilização de moléculas de ação biocidas (inseticidas, fungicidas, herbicidas e nematicidas), que visam ao controle de pragas, doenças e plantas invasoras.

Esses produtos possuem compostos poluidores, como metais pesados, surfactantes e emulsificantes, dentre outros, que, quando entram em contato com o solo, não há barreira física que os impeça de contaminar a água de todo o sistema, afetando esse bioma que é abrigo de uma rica biodiversidade e de populações tradicionais.

Biodiversidade ameaçada

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Foto: SOS Pantanal

Figueiroa conta que a iniciativa do SOS Pantanal conta com o apoio de várias outras organizações que atuam em prol da conservação ambiental – como Ampara Silvestre, Ecoa, Onçafari, Instituto Arara-Azul, Projeto Onças do Rio Negro, SOS Mata Atlântica e WWF Brasil – e também está tendo grande adesão e receptividade junto aos pantaneiros.

“Eles têm a compreensão de que a natureza fala mais alto nesse bioma e precisa ser respeitada”, cita, lembrando que no Pantanal há pelo menos 4.700 espécies, sendo 3.500 de plantas, 650 de aves, 124 de mamíferos, 80 de répteis, 60 de anfíbios e 260 de peixes de água doce, sendo que algumas delas em risco de extinção. “Não podemos permitir que esse equilíbrio seja abalado por uma atividade altamente destrutiva como os plantios de soja em larga escala”, pondera.

Nesse sentido, Bossi diz que o SOS Pantanal, por meio desta campanha, reafirma seu compromisso com as práticas sustentáveis na região. “Nossa principal agenda sempre foi, e continua sendo, o desenvolvimento econômico aliado à conservação ambiental. Para nós, a produção agropecuária conduzida de forma sustentável, aliada ao desenvolvimento do ecoturismo, é o caminho rumo a esse objetivo. É exatamente por isso que ressaltamos que o Pantanal não é lugar de soja”, finaliza.

Para assinar a petição on-line, clique AQUI.

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Imagem: SOS Pantanal

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